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2.6.13

3º Blablablá na Casa Amarela - Como foi?

Mesmo no meio de um feriado prolongado, mais de 20 pessoas acorreram à Casa Amarela para o Blablablá (foto Akira Yamasaki)
     Bate quatro da tarde, a hora de iniciar e sequer os convidados tinham chegado. Não confesso a ninguém, mas estou gelado. Será? Fim se semana prolongado, acho que o bicho vai pegar! Ontem já tive uma prévia disso, quando fui ao ECLA prestigiar os icônicos Gildo Passos, Sílvio de Araújo e Akira Yamasaki, e tomei um susto. Se nem eles conseguiram arrastar a multidão que os acompanha, fudeu; que direi eu? Mas no meio do meu desassossego, a Rosani chega, justo ela que, dos quatro convidados, é a que mora mais longe! Sem mais sofrimentos, junto com ela, aflora em questão um público legal que vai cehgando e, de repente, a Casa Amarela já está "gorda". Chega o Daniel "sorriso", o Batalhafam e, por fim, baianamente, o Sacha, sempre cumpridor de seu próprio horário.
     Senhoras e senhores, está aberto o 3º Blablablá, uma investigação mensal sobre produção cultural independente no universo periférico que a Casa Amarela está fazendo.
Sacha Arcanjo, liderança pública inquestionável e artista inspirado (foto Luka Magalhães)
     Convido a mesa para uma breve apresentação e exposição de seus trabalhos. Então Daniel Marques (ator, dançarino, educador e um dos mentores do sarau O Que Dizem os Umbigos? - Itaim Paulista), Rosani Abou Adal (poeta e jornalista, editora do jornal Linguagem Viva), Zé Carlos Batalhafam (poeta, prosador e historiador, criador do Sarau do Nhocuné) e Sacha Arcanjo (cantor e compositor, coordenador da Oficina Cultural Luiz Gonzaga), começam compartilhando com o público um pouco de suas historias e suas artes. João Jr., exímio percussionista que está presente para ouvir o debate, dá uma canja durante os dois números introdutórios de Sacha.
     Após esse aperitivo inicial, principio a conversa inquirindo Batalhafam sobre questões éticas que permeiam a sua produção cultural, um dos vetores de suas motivações. Ele responde, de pronto que foi inspirado, entre outras coisas, pelas ações do Movimento Popular de Arte (MPA), e que sempre toma suas decisões pautadas por posturas que não derivem exclusivamente da questão financeira, e esta condição é uma facilitadora das proposições que consegue levar adiante. Bingo!
    Daniel, a quem lanço a mesma provocação, enumera um balaio de situações vividas e que exemplificam o desamparo vivido quando o sarau que dirige acontecia na Casa de Cultural do Itaim Paulista. Lá, segundo ele, havia muita dificuldade para resolver qualquer questão que exigisse algum trabalho que implicasse alguma modificação na infraestrutura dos eventos. Se tivesse que pedir um microfone a mais, vaticinou, era um problemão. Daniel credita a isso o fato os funcionários do espaço serem funcionários públicos alocados sem critério, em funções para as quais não estavam designados quando de seus concursos. Por isso a sua dificuldade em trabalhar nestes equipamentos e o porquê o "Sarau dos Umbigos" ter sido levado para a quadra da Escola de Samba Unidos de Sta. Bárbara, onde, confessa está "muito mais feliz".
Daniel e Batalhafam, "o sorriso também é uma ideia" (foto Luka Magalhães)
     Convocada a somar com suas ideias singulares e fazendo uma radiografia detalhada de sua vida art´sitica e jornalística, Rosani evoca sua experiência como editora de um jornal, o Linguagem Viva, que ela fundou em 1989 e dirige desde então. Consciente de seu papel articulador, aproveita a oportunidade para especificar fatores que permitem dar vida tão longa a um jornal independente. Cita, entre vários exemplos, a importância das parcerias, pauta-se na coerência editorial e ideológica, no apuro jornalístico no trato das matérias e a articulação política na defesa da classe.
     Sacha é o próximo a ser chamado a falar. E não economiza nas palavras. Faz uma digressão cronológica atenta, com a autoridade de "representante" há mais de quinze anos de uma classe fadada à crítica via senso comum - funcionário público nomeado. Faz uma assertiva e coesa explanação de como funcionam as articulações burocráticas, permitindo a muitos que entendam melhor como funciona "a máquina" estatal. A partir daí, também ajuda a elucidar tramitações que passam ao largo da compreensão da maioria, e ajuda assim a tirar um pouco da fumaça que impede uma relação mais equilibrada entre poder público e atores sociais.
Rosani, Daniel, Batalhafam e Sacha: inteligências múltiplas (foto Akira Yamasaki)
     O público não foge à discussão. Beto Rio, Luka Magalhães, Sueli Kimura e Ulisses Oil, ajudam a sucitar dúvidas e proposições, trazendo à luz várias questões que vão sendo elucidadas ou ao menos discutidas. Arnaldo Bispo, poeta e advogado, pergunta sobre a guerra de vaidades no qual o artista atua, e sobre como isso pode ser trabalhado a favor da arte do coletivo. Akira Yamasaki, poeta, ativista cultural e um dos gestores da Casa Amarela, questiona se os que criticam têm projetos de fato ou estão apenas reproduzindo uma reclamação feicibuquiana. "Eu não tenho grana pública ou privada pra tocar meus projetos, mas se tivesse essa grana eu pegava, numa boa, porque eu tenho projeto, eu tenho projeto, cara!", assevera.
     As contradições são colocadas na mesa, colocações dispersas ficam sob a prova-dos-nove, predicações são sujeitadas aos fatos, predileções são duvidadas. Severino do Ramo e sua poesia visceral são relembrados. Ferreira Gullar, idem. Daniel, aproveitando uma dada oportunidade, elogia o nome do projeto, pois como ele mesmo preconiza "O nome Blablablá é genial, pois a gente precisa disso, conversar, né?". Ao que Sacha complementa, "aqui (A Casa Amarela) é uma casa de cultura". Rosani vai mais longe, "é genial o que vocês estão fazendo aqui!". Mas se começaram a afagar o ego do espaço, é melhor parar por aí. Olho pro relógio e vejo a hora ultrapassada. A conversa caminha para o fim, tenho que encerrar.
     Convido os quatro para um brinde final: com os recursos enriquecedores de seus corpos, Rosani e Daniel trazem mais poesias lúcidas (e lúdicas) para a plateia. Batalhafam traz sua poesia sempre refinada, cozinhada em fogo brando ou laborada como vinho elaborado pelo mestre artesão em conluio com o mestre tempo. Sacha, por fim, canta e encanta. Atendendo o público pidão, ele bisa e trisa seu número. E eu, advogado do diabo, sou obrigado a mandar todos de volta pra casa. Mas como dói ser um bicho assim, metido a cumpridor de horários! Que venha o próximo então! Em 06 de julho vamos blablablar de novo!
Público que antecede o Blablablá de junho (foto arquivo Akira Yamasaki/Sueli Kimura)
Fim do papo no Blablablá. "Fim do papo?" (foto arquivo Sueli Kimura/Akira Yamasaki)
Célia Yamasaki e Sueli Kimura: estafe luxuoso da Casa Amarela (foto Akira Yamasaki)


Poema de Akira Yamasaki publicado no Facebook hoje, doze horas depois do fim do Blablablá:


o blábláblá de ontem


blábláblá é papo furado
é lero-lero é lenga-lenga
não leva a lugar nenhum
é conversa fiada, arenga
e por ser prosa de boteco
nunca soma um mais um
ladainha oca sem sentido
tititi, peroquessi, blábláblá
discurso em plenário vazio
o patacolá é patati patatá
porém lá na casa amarela
há um concorrido blábláblá
mediado pelo vate escobar
machado drumond franelas
onde enganação e bravata
não tem guarida nem lugar
um tal de daniel marques
grande poetator e agitador
ontem mesmo baixou por lá
com sacha arcanjo, o poeta
de são miguel, compositor
com eles vieram a tiracolo
a poeta rosani abou nadal
e o poeta maior batalhafan
que converteram o blábláblá
em raro e inesperado sarau

akira – 02/06/2013.


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