vs. eu: Blablablá na Casa Amarela

4.5.13

Blablablá na Casa Amarela - 2º encontro

Arpesentação dos convidados (foto Sueli Kimura)

Meio da tarde, sol a pino, calor de 30ºC, olho o relógio: 13 pras 4. Comigo, na Casa Amarela, por enquanto, apenas o Rodrigo, Samara, Zulu e Vandei. Os três últimos são convidados, não conta. Cadê o povo?

Menos de uma hora depois iniciamos o 2º Blablablá com mais de 20 pessoas na plateia. O Jocélio, último dos convidados, chegara. A garagem está cheia, o burburinho toma conta, tento engatar uma conversa com o Xavier sobre sua saúde, mas não consigo. Quero falar com a Inês, matar um pouco da saudade, mas outros me sequestram a atenção. Tento cumprimentar a Sueli Kimura mas nem isso consigo, falar oi para minha parceira de trabalho. O público, percebe-se, está ávido por um dedo de conversa, trocar saberes, questionar, inquirir. Temos que dar a César o que é de César, iniciamos...

A primeira pessoa a ser apresentada é Samara Costa, artista visual e arte-educadora. MIlitando por pelos caminhos da educação ambiental atrabés do Coletivo Alma (Cohab II, Itaquera), deixou a estreia de um filme que ajudara a produzir - Ritos de Rios e Ruas - só pra celebrar conosco o colóquio da inteligência.

Samara é assim mesmo, inteligente e compenetrada. E, com muitas histórias pra contar, innicia seu depoimento lembrando que chegou a juntar um ano inteiro de lixo em sua própria casa (no quarto!), apenas para poder aferir a produção de resíduos numa família mediana, a sua. Limpava, separava e guardava tudo, conferindo o montante. Foi essa tarefa metódica o estopim que despertou a atenção de outras pessoas e grupos para o ineditismo de seu trabalho. Aceitou, então, o convite para envolver-se com as produções do Alma, numa parceria que já dura 10 anos.

Incitada pelos presentes, fez apontamentos que enriqueceram o debate de maneira muito positiva, principalmente quando comentou que, ao contrário do que se apregoa, é possível, sim, prospectar fundos através da Lei Rouanet, apesar das dificuldades e dos entraves burocráticos. Citou, como exemplo, o documentário produzido pelo Alma - com recursos advindos de renúncia fiscal - como exemplo prático de que é possível fazer uso ético da lei.

Vandei - Poeta (foto Sueli Kimura)

Vandei (lê-se Vandeí) de Oliveira, que se autointitula Zé (num "resgate de minhas origens nordestinas", diz), chegou-chegando - paradoxalmente, comentando que estava nervoso. Formado em Filosofia, lincou educação formal com informal (Vandei tem experiência em ambas). Provocador e arguto, criou um cisma na plateia quando afirmou seu desalento com o "sistema educacional falido". E o debate ganhou musculatura pela variedade e qualidade dos argumentos de ambas as partes.

Jocélio Amaro brindou-nos com detalhes muito enriquecedores de sua trajetória, do quanto teve que desprender-se e partir para o front, para que sua obra (5 discos em 15 anos de carreira), independente, ainda assim apresentasse uma qualidade uniforme.

O último a apresentar-se foi o cantor Zulu de Arrebatá. Nascido e criado em São Miguel Paulista, o também compositor explanou de maneira muito assertiva, encadeando fatos desde que era o garoto e montou (com Edvaldo Santana, Osnofa e Fernando Teles), o grupo Caaxió, futuro Matéria Prima. Citando o projeto Encontro das Artes, que Zulu criou em 1997 e por mais de 10 anos foi um dos principais eventos anuais dentro do ambiente artístico de São Miguel e região, Zulu explicou as peculiaridades de uma empreitada dessas, com verba irrisória ("nenhuma", em alguns anos, segundo ele), que mesmo assim reunia sob um mesmo teto artistas tão díspares quanto complementares e de várias expressões como artes visuais, música, literatura, vídeo, teatro, dança e outros.

O público, interessadíssimo, provocou vários momentos de aprofundamentos das questões que eram sucitadas nas discussões.

Assim, sob vários pontos de vista, é possível observar que o Blablablá ganha, a cada nova edição, mais vitamina e músculo, ajudando a criar caminhos, antever possibilidades e congraçar amigos e militantes. O parabéns, aqui, é para todos!