Chego meio afobado na Biblioteca Nair Lacerda, ali na Pça. 4º Centenário, bem no centro de Santo André. Mas, aparentemente, tá tudo bem. ´Combinei´ com o Marcatti que enquanto eu não chegasse ele ficaria ali, segurando a onda, parolando, trocando ideias com o público, entretendo as pessoas. A Thina parece um pouco mais avexada comigo, chega, "oi, estava preocupada com você!" Eu, com cara de nuvem: "desculpa, me perdi mas tá tudo bem, só vou ali tomar uma água. Já volto!"
Vou, bebo, volto. E o Marcatti ali, segurando a onda pra mim, pra nós. As horas avançando devagar, o papo do cara pra lá de legal, muitas histórias, memórias, coisas que fez e faz pelo quadrinho nacional. E a independência? Ele fala dela com uma naturalidade e maturidade. Conta como se livrou do fardo das editoras e hoje trafega livre produzindo seus trabalhos. Me remexo todo, afinal, estou ali justamente para falar disso - independência, mídias livres, essas coisas - com a Thina, logo depois. Caramba, o cara tem muito mais estrada que eu e está falando do meu assunto! Pronto, esgotou! Não tenho mais o que falar. Sofro calado com a ideia de sucedê-lo e manter acesa a mesma chama na plateia. O cara tem história, eu, apenas "tenho umas histórias pra contar".
Marcatti é sábio, dominador, tem repertório curtido na prática. Caminha pro fim com sobriedade, dá um trato nos assuntos gerais e eu fico com a árdua tarefa de prender a atenção de um público que naturalmente vai debandar, tenho certeza. Acaba sua palestra, começa o obaoba dos autógrafos, aquela coisa gostosa que todos nós gostamos, essa afagada no ego. E, adivinhem!, o público vai saindo, a maioria não sabe que existo. Ficam os gatos pingados.
Marcatti: "eu não sou livre, sou independente. Livre é o artista, e eu não sou artista" (foto Gilberto Xis) |
Coço o rosto, olho pra cada um dos convivas, sobreviventes que ficaram pra meu bate papo, a conversa informal e... ah, deixa de onda, vamos lá! Thina começa tudo: precisa, me apresenta. Nascida no mesmo movimento que eu, o agito punk que sacudiu a Pauliceia na década de 1980, fanzineira devota e praticante, ms Curtis começa o debate. Por conta desses tropeços da vida que não se explicam, sequer se justificam, nunca nos esbarramos, até que em março desse ano nos encontramos na 1ª Feria Literária do Centro Cultural da Juventude (CCJ), e nos tornamos os amigos que sempre fomos. A partir daí, naturalmente, começamos a trocar palavras até o convite dela para participar desta Fanzinada, dentro da Jornada Cultural de Santo André 2013. O evento é bem parecido com a Virada Cultural de São Paulo, mas com uma programação voltada para contemplar as demandas específicas da cidade do Grande ABC.
Thina Curtis e eu (foto Celso Machini) |
Sem delongas, vamos aos fatos: Curtis se apresenta e me apresenta para o ´resistente´ público presente. Tento ser simpático, nunca tenho certeza se consigo. Alguns sorriem de minhas colocações mal elaboradas, toscas, às vezes. Sigo em frente, falo de minha formação, da importância do movimento punk em minha adolescência, do encontro com o hip-hop, do diálogo com as várias possibilidades estéticas que foram surgindo, dos poucos acertos e dos muitos erros em minhas decisões.
Paro, respiro, peço pra minha parceira tomar minha palavra, se necessário. Tenho a mania de querer explicar demais, relatar tintim por tintim e, como cantava Renato Russo, quem "fala demais é porque não tem nada a dizer". Ela educadamente, faz uns remendos nos meus desacertos verbais e eu retomo ao assunto. Comento da minha iniciação no mundo da literatura, os primeiros poemas, os primeiros concursos, os primeiros artigos. Entrego de bandeja o Jornal do MAL, zine porcalhão que fiz com amigos lá por volta de 1988, até chegar ao momento mais próximo, de intensa atividade internética.
Aos poucos, as pessoas começam a interagir, tirar dúvidas, questionar, duvidar e então o papo fica do jeito que gosto, com muita troca de ideias, informações e histórias, as inteligências em combate. Pode parecer meio demodé mas é aí, na arena da troca de experiências, que me sinto mais em casa. Sou provocado, provocam a Thina também (mas ela não vale, é ´café com leite´, tem muitos fãs e amigos na plateia), e vou costurando os assuntos que domino. Quando alguém traz à tona a necessidade de se discutir a questão do copyright, da autoria no mundo virtual, declino, passo a bola. Não manjo do assunto. Curiosamente, a conversa flui melhor aí, esquenta, convida muito à participação. Mas então já está perto das 8 da noite, hora de fechar a biblioteca, ir embora.
Sou convidado a retornar outra vez, para um novo debate, talvez uma oficina, mas acho que é mais um afago cidadão que o pessoal de lá - gentilíssimo, por sinal - quis passar em meu rosto. Sei que falei, falei pra caramba. Mas tenho dúvidas sinceras sobre a importância do que digo.
Seja como for, ganhei vários novos amigos que já estão na rede feicibuquiana e, na moral?, esse é o melhor presente que ganho nessas andanças por aí. Essa a independência que quis falar, que era o tema central da conversa.
Público presente: ´resistente´ (foto Celso Machini) |
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