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9.7.14

Resenha - livro "O Diário de Anne Frank"

A capa desta edição lida e comentada d´O Diário de Anne Frank

Reprodução de páginas originais do diário de Anne Frank


O Diário de Anne Frank

Difícil, difícil mesmo chegar ao fim deste livro e não se sentir despregado chão, como se estivesse suspenso numa nuvem escura e densa. O Diário de Anne Frank, muitos já o sabem, é um livro que foi escrito pela jovem judia enquanto esteve escondida com sua família, num canto da Holanda, fugindo da perseguição nazista. Escrita assim, até com certa frieza distante, esta resenha não dá conta do enorme arcabouço de sensações e sentimentos que são fornecidos a cada linha, durante a leitura.
Com uma sinceridade surpreendente, a adolescente traz para as linhas escritas a sofreguidão do Anexo (local onde sua família e mais algumas pessoas ficaram reclusas por mais de dois anos) e a construção de uma maturidade construída à força, diante da intransigência dos fatos. Anne é, antes de tudo, uma garota normal e, naturalmente, vaidosa, teimosa e inconstante.  Inteligente, sua sinceridade às vezes é cortante. E a violência de algumas de suas palavras – nem sempre necessária – desconcerta.
Nascida em 1929 na Alemanha, sua família muda-se para a Holanda em 1933 quando a ascensão do nazismo no seu país de origem implica no início da perseguição desses aos judeus. Quando a guerra começa de vez e a Alemanha invade a Holanda, aos judeus resta esconder-se, no aguardo de que a Inglaterra envie suas tropas para desobstruir o país. Em 1942, nada há para se fazer senão aguardar. Seu pai, Otto, ajudado por amigos não judeus, decide radicalizar quando a situação fica insustentável. Todos se escondem num cubículo dentro do escritório onde funciona a empresa no qual Otto trabalha.
É ali, escondida no sótão que Anne escreve seu diário, ao qual dá o nome de Kitty. Em suas linhas, a adolescente em formação fala do dia a dia, da difícil convivência com cada um dos moradores do lugar, da incompreensão de sua mãe, das paixões juvenis antes e durante o cativeiro, da admiração pelo pai. Anne não foge de qualquer assunto que ganhe relevância em sua mente inquieta. Discorre com naturalidade incomum para uma garota de sua idade, tecendo comentários ácidos sobre família, política, sexo, sentimentos, planos para o futuro, sem deixar de pautar também as mínimas coisas que aconteciam ao seu redor.  Todo assunto se torna importante para ser comentado com Kitty.
Após denúncia, Anne Frank, seus familiares e outros “moradores” do anexo, foi presa na manhã do dia 4 de agosto de 1944. Morreu no campo de concentração em Bergen-Belsen aos 15 anos, em data incerta, provavelmente no início de 1945, vitimada pela tifo que dizimou milhares de pessoas nos campos de concentração. A causa para esse genocídio foram várias mas principalmente as péssimas condições de higiene desses locais.
Parece provável que a vida seja mais novelesca que a própria arte (esta, um engenho humano) mas compreensivelmente, a (re)leitura de O Diário de Anne Frank fornece alguns indícios interessantes. O último texto de Anne, escrito em 1º de agosto de 1944, tem um aprofundamento melancólico não observado em suas outras páginas, ainda que o diário viesse num “crescendo” niilista, diluído em elucubrações introspectivas de muita força e poder. Chama a atenção que justamente os “sobreviventes” do genocídio – seu pai, as jovens funcionárias do armazém, Bep e Miep, além dos gerentes Kluger e Kleiman, tenham sido os “poupados” das críticas atrozes que ela teceu nas suas linhas ácidas durante o tempo de cativeiro. É como se o tempo tivesse feito justiça às elucubrações juvenis e poupado os “bonzinhos” de sua epopéia.

Escobar Franelas


O Diário de Anne Frank
Edição definitiva por Otto H. Frank e Mirjam Pressler
Tradução Alves Calado
Ilustração de capa Pedro Meyer Barreto
Design de capa Fabíola Gerbase e Pedro Meyer Barreto
RJ: BestBolso, 2013


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