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29.3.13

Apresentação do livro O Lobisomem da Av. São João (Costa Senna)



“O LOBISOMEM DA AV. SÃO JOÃO”- COSTA SENNA


Apresentação
 O Lobisomem da Avenida São João, do cordelista, ator, cantor e músico Costa Senna, é sua primeira incursão pelo universo da prosa fictícia.
E que estréia! Depois de vários livros dedicados ao cordel, a explicar o raulseixismo e outras viagens poéticas, o Poeta (como também é conhecido), motivado pela sua rica experiência de décadas vivendo em São Paulo, descortinou, através desta nova obra, os vãos da grande metrópole. Para isso, personalizou-se em Jano, um cidadão de vida simples, mas que o acaso fez com que se encontrasse com um tipo muito incomum para uma cidade: um lobisomem. No entanto, contrariando a lógica cartesiana da sociedade, selam amizade. A partir desse ato, desencadeia-se profunda transformação na vida de ambos.
Tramado sabe-se lá por quais forças que regem a vida, um mesmo brinde é erguido à bênção da fraternidade e à maldição dos condenados, dos que vivem à sombra, sem qualquer possibilidade de diálogo com o mundo dito normal.
O Lobisomem da Avenida São João apresenta outros recursos encantatórios, mais sutis e complexos: a Pauliceia fica toda exposta, com seus artelhos e artérias de aço, os nervos de plástico, a pele de granito e vidro, sua alma de fumaça. Tudo fica exposto, pontilhado por uma gradação noir, numa atmosfera de (sur)realismo fantástico tupiniquim. O coloquialismo vibrátil, as variações semânticas e a sensação de thriller cinematográfico do enredo, são alguns dos outros achados que o livro oferece. Recordando o escritor português Fernando Namora1, Costa Senna recrudesce a teia de emaranhados fictícios, “juntando os elementos estruturais típicos à crônica do viver diário, abrindo o campo semântico às experimentações do homem que sonha, ao mesmo tempo em que lê uma realidade”.
Nesse redemoinho, afinal, quem está sonhando? Jano, com o lobisomem? Ou nós, que assistimos às suas histórias? Não sabemos se estamos imersos no pesadelo, ou se é apenas o pesadelo dos outros.
Assim, o Poeta acena com infinitas afinidades para a interpretação o mundo irreal, fantástico. Usa prosa fluente para nos levar numa longa peregrinação em torno da grande metrópole que é Sampa, mas também poderia ser Nova Iorque, Londres, Paris ou Tóquio.
Em complemento, o que diferencia O Lobisomem da Avenida São João em sua essência, dentro do liquidificador literário de Costa Senna é a observação arguta dos diversos ângulos que lêem o social. Pois sabemos que uma mesma realidade se apresenta ora antagônica, ora complementar, dúbia na maioria das vezes, dentro do complexo tecido tramado para aqueles que a vivem. Incrivelmente, é disso que sempre esquecemos.
Distante, “muito distante”, mas próximo, “muito próximo”, da tradição do mundo fantástico de um Cortázar, Rubião, e J. J. Veiga, Costa Senna revela-se herdeiro mas apresenta-se com dotes próprios. Perscruta, apropria-se, mostra conhecimento, desenvoltura e desvelo, urbano e humano.
Circunstâncias naturais de sua vida levaram-no ainda criança para o interior do Ceará. Lá, viveu parte de sua juventude entre cantadores de viola, emboladores, cordelistas, contadores de histórias etc. Toda essa gente embasou o diamante que urdia em ser lapidado. Depois veio a contracultura, a descoberta de infinitas possibilidades estéticas que, aliadas à brasilidade, renderam múltiplos elementos que desde então estão sendo trabalhados arduamente pelo múltiplo artista, que agora engloba também o romancista.
A leitura d´O Lobisomem da Avenida São João é um prazer auspicioso, um cálice de vinho de boa safra que Costa Senna nos oferece. Devemos, então frui-lo com prazer, pois é a isso que se oferece.

Escobar Franelas

(1) Fernando Namora, em Um Sino na Montanha, pag. 83.

Um comentário:

Costa Senna disse...

Obrigado poeta por tão bela apresentação. Leio, leio, leio
e cada vez que leio parece nascer uma vontade forte de ler novamente.