Nunca Fui Santo – O Livro Oficial do Marcos (Depoimento a
Mauro Beting)
Foi assim: meu amigo Del, corintiano, passou uma msg acho
que via Facebook, “Escobar, vc já leu o livro do Marcos, o Nunca Fui Santo?”.
Demorei um pouco para entender sobre o que ele estava falando. Respondi que
não. Na semana seguinte, numa manhã em que iríamos levar nossos alunos para um
dia de recreação em Salesópolis, SP, ele tirou o livro de sua bolsa e foi
falando, “cara, você precisa ler isso, meu. Eu já era fã do Marcos, e depois de
ler esse livro, fiquei mais ainda”.
Capa do livro sobre São Marcos |
Levei o livro comigo e já na pousada li a Apresentação feita
pelo Mauro Beting, que também é coautor, incumbido de transformar em literatura
o depoimento do arqueiro. Naquela mesma noite, enveredei pelo texto fluido e
contagiante. Dois dias depois já tinha terminado a leitura. Pelo celular,
avisei o Del que iria lhe devolver o livro. Mas eis que a musa, flamenguista,
tomou-me das mãos, “também quero ler, você sabe que gosto do Marcos!” Depois
foi meu filho, santista, que enveredou pelas histórias do Santo e, agora, por
último, o caçula também se dispôs a saber um pouco mais do goleiro titular da
seleção campeã do mundo em 2002. Até agora não consegui devolver livro para o
dono.
Todos sabem que sou palestrino, uma ilha no meio de tantos
distintivos. Mas o Marcos é uma das unanimidades entre o meu pessoal. E, nesse
caso, contrario Nelson Rodrigues, nem toda unanimidade é burra.
Agora, deixando de lado todo esse confessionário, vamos à
obra. Narrado em 1ª pessoa, o texto é despretensioso, cronológico e carregado
nos fatos pitorescos, o que facilita a leitura, principalmente aqueles que não
estão acostumados. O bom humor impera e contagia, somos levados pelas palavras
do ídolo palmeirense à infância, às primeiras experiências futebolísticas, ao
mundo particular e rico, porém modesto e humilde, por onde transita o eterno
dono da camisa 12 alviverde. Como é comum em depoimentos que buscam a atingir a
camada mediana do público e carregado no verniz subjetivo, Marcos se contradiz.
Mas essas antíteses são típicas de quem tem respostas (quase sempre)
definitivas – e que é incessantemente cobrado por elas. Ao mesmo tempo, isso o
humaniza ainda mais, colocando-o à vontade com sua memória e suas
interpretações. Paradoxalmente, sendo humanizado – justificado por sua memória
– Marcos sacraliza ainda mais suas palavras.
O depoimento, colhido e revisado, nunca perde o viço, uma aura mítica que circunda seus gestos e palavras,
potencializando o bom moço, bom filho, bom pai e bom marido. Marcos já
cometeu gafes grosseiras (apoiar Maluf nas eleições de 2002 talvez tenha sido
seu maior “frango”), mas - eis aí outro paradoxo - isso mais o aproxima de nós,
mortais, com direito a erros de orientação e percurso. Erros, aliás, sacralizados também com sábias palavras, quando questionou a infalibilidade de todo protetor de metas, asseverando há não muito tempo atrás, "todo goleiro tem direito a tomar gol de pênalti". Ora ora ora, justo você São Marcos, que ganhou esses contornos áureos justamente pela precisão com que salvou o arco do Palmeiras em não poucas ocasiões. Professoral ou filosófico, esse tom de dignidade com que defende seus amigos de profissão, somado ao restante de suas ações, mais Santo o torna. Amém!
Nunca Fui Santo – O Livro Oficial do Marcos (Depoimento a
Mauro Beting)
SP: Universo dos Livros, 2012, 1ª edição.
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