Gildo Passos está bem. Depois de passar por poucas e boas com alguns problemas de saúde, um dos grandes trovadores de São Miguel e região, pode enfim retomar a carreira. Através do projeto "Memória Musical", comandado pelo incansável e inquebrantável Akira Yamasaki, acabou de tirar do forno o disco "Ouvindo o Coração", um autêntico mela-cueca roqueiro. Nesse cd, Gildão reelabora a canção como se fazia nos primórdios do rock enquanto gênero e atitude, dá a ela a graça do flerte sem perder o lirismo e a contundência. Indica caminhos, enfim, numa hora em que poucos atalhos parecem seguros nesse oba-oba funkeiro que estamos vendo e ouvindo.
Ele trocou um dedo de prosa comigo, no dia em que fazia o primeiro show com o novo trabalho pronto. Show este que teve a especialíssima participação de outro ícone da musicalidade brasileira, o também sã-miguelino Edvaldo Santana.
O depoimento taí: curtam!
Gildão Passos, momentos antes do show na Casa de Farinha, 16 de junho (foto EF)
(falando com/das emoções de participar do “Projeto Bem-Te-Vi, Itaim”...)
Gildo Passos – A gente teve a oportunidade de participar desse projeto que acho super-importante, que é resgatar a cultura daqui de São Miguel e da região, do Itaim, da zona leste em geral. E a gente tá resgatando alguns artistas que na realidade não têm uma condição de lançar um material de qualidade, qualidade essa que o projeto beneficia.
Então dá uma transparência para o artista e dá uma visibilidade maior, porque é um trabalho bem feito, bem gravado, com todo o cuidado. Os artistas que participam, como o Capa, o Will, são pessoas que estão aí desde a época do Movimento Popular de Arte, vêm caminhando, né?
Então, você vê que já tinha de anos, e se torna uma corrente que nunca deixou de ser, mas aflora de novo e isso é que é importante, porque qualidade é importante. Mas existe o material humano, que é a arte.
(o tempo passando...)
GP – Veja só qual é a transa. A gente tocou e teve os filhos. A nova geração que veio, no meu caso meu filho ta tocando comigo. E tem o Théo tocando, e o filho também vai estar tocando com ele. Essa geração que veio é que ta perpetuando o trabalho desses caras. Pois eles tocam Raberuan nos bares, Sacha, Silvio Araújo, e tocam Gildo Passos também. A gente tem esse grande lance de ter essa garotada que cresceu junto com a gente, os filhos do Luiz (Casé), do Raberuan, e outros que perpetuaram nosso trabalho. E que fazem trabalhos novos e tocam com a gente.
(sobre a energia da molecada nos mais velhos...)
GP – Essa mistureba toda, essa injeção de ânimo, a gente se propõe a fazer uma nova roupagem nas canções. Você mesmo tem umas gravações mais antigas minhas, que hoje você vê com outra pegada, mas não perdeu aquele sabor gostoso de canção. Simplesmente para agregar essa moçada mais nova, fazer eles curtir mesmo. E, lógico, estar trocando figurinha.
(sobre o novo cd “Ouvindo o Coração”...)
GP – Tenho 5 cd independentes mas esse é o primeiro que estou lançando oficialmente, com mais retorno. Pois são dois cd num só, mais três canções novas. Peguei o que já tinha lançado, que não estavam com uma qualidade legal, transformei, demos uma nova roupagem nas canções, para que a gente pudesse mesmo resgatar aquele trabalho que não tinha ficado a contento. Agora a gente ta resgatando isso, e ainda tem a galerinha que está começando seus trabalhos.
(citando os cd anteriores...)
GP – O primeiro cd que a gente lançou foi dos Tripulantes Por Acaso, que é uma banda independente, muito boa. Foi da mesma época que o MPA lançou seu disco, mais ou menos em 85. a gente estava com essa banda, e fizemos a abertura para alguns artistas, como Belchior, Tom Zé, Walter Franco, mas depois eu montei um trabalho solo e fiz o cd “Meu”, e fiquei um ano e meio apresentando ele. Como estava com essas músicas, então fiz o cd “Amor e Consciência” e fiquei com esses 2 cd, que era o que eu tinha apurado nesses 20, 25 anos de carreira na noite.
Ai, mais pra frente, a gente lançou um cd country, “Caravana Country”, que também foi um negócio legal que a gente fez.
Teve situações em que eu trabalhei nos cd de outros, no cd do Sacha que cantamos uma música, no cd do MPA, que agora transformamos num cd. É uma carreira de 33 anos que tem muita coisa.
Pena que nem tudo a gente conseguiu registrar, como o “Migalhas na Mesa”. Foi a primeira banda que tive, mas não consegui fazer nenhum registro fonográfico dela.
(falando sobre o próximo trabalho...)
GP – No término desse show, teremos o Théo com o filho, que é a banda que vai correr mesmo com a gente. Vamos mostrar 3 músicas deste trabalho que a gente ta terminando de gravar. Na verdade, era para ter terminado este trabalho, mas como o pessoal veio com o projeto “Ouvindo o Coração”, eu dei uma brecada, pois os meninos estavam enrolados lá, os músicos, e a gente retornou ao trabalho, depois de terminar esse disco.
Vamos da ruma palhinha com 3 músicas aqui, numa homenagem que vou fazer ao Raberuan, cantar uma música chamada “Paladino das Estradas”, para fechar o show com a formação que vai ser aquela que vai seguir comigo agora. Com a garotada, o meu filho, o filho do Théo e ele, e o Sílvio Araújo, que é meu grande parceiro de anos e anos.
Eu montei dupla, Gildo Passos e Sílvio Araújo, Gildo Passos e a Banda Renascença e montei também Gildo Passos e Miguel Arcanjo por uns bons tempos. Inclusive vou tocar músicas dele aqui também, hoje.
Tive parceria com Roberto Claudino, grande poeta pernambucano. A música que encerra este cd, “Guerra de Interesses”, é minha e do Roberto Claudino. Então, vamos ter uma mistureba com os caras que estiveram ao longo de minha carreira, sempre ao meu lado, que são bons compositores.
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