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27.7.12

Indicação de leitura: Percurso Pela África e Por Macau (Benilde Justo Caniato)

Reprodução

O livro Percurso Pela África e Por Macau, da profª e pesquisadora Benilde Justo Caniato, é o de nº 18 da coleção “Estudos Literários”, da Ateliê Editorial, e trata das relações entre a língua portuguesa com a áfrica portuguesa e a península de Macau, na costa litorânea chinesa.
Os 11 artigos da obra sintetizam a idéia primordial da autora, cuja pesquisa procura esmiuçar as sutilezas geográficas, históricas e lingüísticas que unem o “continente lusófono” africano e estabelece a partir de então um diálogo com Portugal, o Brasil e o Oriente. Para tanto, ela vai até a gênese daquilo que poderíamos chamar de “literatura africana em língua portuguesa”. Quer dizer, pesquisa escritores que retratem a áfrica portuguesa a partir de suas vivências, experiências, alquimias e esperanças. Usa como aporte autores iconográficos da literatura de seus respectivos países e estuda-os, em suas maneiras de amalgamar os dialetos nativos de cada região com a língua portuguesa.
Essa aculturação, feita de idas e vindas lingüísticas através dos séculos de dominação política por Portugal, e, principalmente, após a conquistada independência de países como Angola, Cabo Verde e Moçambique, é refletida a partir da leitura de escritores como Luandino Vieira, Arnaldo Santos, Manuel Ferreira e Boaventura Cardoso, entre outros. A pesquisadora constata que a partir desses e outros, foi possível criar e definir uma “identidade nacional” lingüística em cada país, mantendo uma ordem e unidade necessários para o processo e conseqüente progresso civilizatório, estabelecendo-se então uma teia de estreitas relações comerciais, políticas, culturais e diplomáticas entre as nações.
Todo esse caminho, contudo, obedece a trâmites muito específicos. Benilde deixa isso bem claro, observando que nem sempre a língua portuguesa oficial é falada no dia-a-dia das populações. Os dialetos, como o crioulo, são usados mais comumente no cotidiano das relações populares. Na maioria das vezes, a língua oficial fica apenas para o jornalismo, os documentos oficiais, e as relações com o poder estatal.
A autora também faz um relevante estudo sobre a morna, expressão musical máxima dos cabo-verdianos(algo próximo do que o samba representa para os brasileiros), e cuja significação de sua aculturação perde-se na memória do tempo.
O último ensaio, “O Espaço Cultural Português em Macau”, à página 111, é uma digressão histórica sobre o estabelecimento português na China, por conta das relações comerciais mantidas desde tempos remotos. Faz um percurso sobre o poliibridismo riquíssimo desenvolvido entre as línguas portuguesa e mandarim, faladas oficialmente, e dessas com o cantonês, que é a fala popular do chinês. Chega à conclusão de que esse fenômeno de apropriação entre duas culturas tão distintas é inédito em todo o mundo, asseverando, todavia, que por erros de estratégia política, o português rapidamente está perdendo força como língua nesse enclave, enfraquecendo a fortaleza dessa transculturação. Soluções pontuais, como criação de um instituto português para disseminação da língua, têm sido tentadas, para preservação da cultura em território chinês.
O livro ressente-se de uma viagem mais completa, que contemplasse também Moçambique, a Ilha da Madeira, Açores, Goa(Índia), e o Brasil(ainda que reconheçamos o artigo “A Presença Africana na Língua Portuguesa do Brasil”, seja um excelente aperitivo introdutório).
Salvo esses pequenos percalços, é louvável e salutar, pela sua abrangência, densidade e ineditismo.


*(SP: Ateliê, 2005, 128 p.)

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